Vejo uma relação íntima entre escultura e teatro, assim como escultura e música, e dança, e pintura...
Em 01/02/2017 16:31
Atualizado em 01/02/2017 16:38
Opinião
por Mirtis Moraes
Amigos queridos,
A arte é a linguagem de sinais entre a alma, os sentidos e a mente.
Quando a alma quer transmitir algo à mente, mas não consegue só com as palavras, ela apela para a intermediação do olhar, do tato, do ouvido, do paladar, do olfato...
E surge assim a arte!
E surgem assim a pintura, a escultura, a música, a dança, a arquitetura, a gastronomia, a fotografia, o cinema, o teatro, a poesia, a literatura... Sim, também a literatura, também a poesia, que parecem transmitir-se via palavras, mas, na verdade, vão muito além: elas transcendem o uso meramente funcional da palavra mediante recursos sensacionais à própria "materialidade" da palavra: as figuras de linguagem, o ritmo, a rima, a falta de rima... A literatura é a arte de tornar a palavra visível, musicada, tangível, cheirosa, devorável!
E o teatro junta essa arte da literatura com as artes cênicas, que, por sua vez, são "esculturas" de personagens e mensagens sobre os moldes dos atores, cinzeladas pelos gestos e silêncios, pelos toques e palavras, pelos olhares e pausas...
Vejo uma relação íntima entre escultura e teatro, assim como escultura e música, e dança, e pintura...
Também por isso é maravilhoso para mim compartilhar este convite a uma peça de teatro instigante e impactante: "O Bosque Soturno", de Neil LaBute, com tradução e produção do meu filho Flávio Moraes.
A montagem brasileira desta obra norte-americana vai aos palcos a partir desta quinta-feira, 2 de fevereiro, no Teatro Eva Herz, em São Paulo, que fica na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista.
O texto fala dos irmãos Betty (Guta Ruiz) e Bobby (Pedro Bosnich), que precisam esvaziar uma cabana porque ela vai ser alugada para novos inquilinos. Obrigados a demorar um pouco mais na cabana por causa da chuva, eles vivem um embate entre as suas diferenças de temperamento: Bobby é um marceneiro com visões rígidas de mundo; Betty é uma intelectual de mentalidade liberal. Nesse embate movido a velhas rusgas, vários traumas e segredos de família vão saindo à tona.
O cenário nesta montagem é todo de caixas de feira, que representam tanto as mudanças na cabana quanto "aquilo que fica guardado" na relação, conforme descreve o diretor Otávio Martins.
A iluminação também compõe a arte desse trabalho: entre penumbras, ela vai aos poucos revelando os elementos em cena.
Uma obra instigante que eu tenho prazer em recomendar!